Passou no seu casamento por aquilo que é quase um facto universal - os indivíduos são diferentes uns dos outros. Basicamente, constituem um para o outro um enigma indecifrável. Nunca existe acordo total. Se cometeu algum erro, esse erro consistiu em ter-se esforçado demasiadamente por compreender totalmente a sua mulher e por não ter contado com o facto de, no fundo, as pessoas não quererem saber que segredos estão adormecidos na sua alma. Quando nos esforçamos demasiado por penetrar noutra pessoa, descobrimos que a impelimos para uma posição defensiva e que ela cria resistências porque, nos nossos esforços para penetrar e compreender, ela sente-se forçada a examinar aquelas coisas em si mesma que não desejava examinar. Toda a gente tem o seu lado obscuro que - desde que tudo corra bem - é preferível não conhecer.
Mas isto não é erro seu. É uma verdade humana universal que é indubitavelmente verdadeira, mesmo que haja imensas pessoas que lhe garantam desejar saber tudo delas próprias. É muito provável que a sua mulher tivesse muitos pensamentos e sentimentos que a tornassem desconfortável e que ela desejava ocultar de si mesma. Isto é simplesmente humano. É também por este motivo que tantas pessoas idosas se refugiam na própria solidão, onde não serão incomodadas. E é sempre sobre coisas de que elas não desejariam estar muito cientes. O senhor não é, obviamente, responsável pela existência destes conteúdos psíquicos. Se, apesar disto, ainda for atormentado por sentimentos de culpa, reflicta então sobre os pecados que não cometeu e que gostaria de ter cometido. Isto poderá eventualmente curá-lo dos seus sentimentos de culpa relativamente à sua mulher. C. Jung
Ana costuma olhar pela janela do carro parado na encruzilhado da dúvida, prisioneiro de um semáforo indeciso da cor a indicar ao tráfego agitado da vida. Olha através do vidro e deixa escorrer o olhar por tudo que alcança. Acende a esperança em forma de um cigarro arrojado. Nas fumaças do presente visualiza um poema no conta-quilómetros da sua existência:
“ A vida está cansada
De gente que não vive
De gente ausente de si mesma.
Andamos perpetuamente em busca de algo
Que está bem longe de nós, bem longe e à frente dos nossos passos,
Talvez num desvio que nunca caminhemos!
Nunca olhamos as flores em nosso redor, nem a felicidade de m sorriso de Agora.
Fazemos poemas de esperança
Fazemos poemas de saudade… e esquecemos de Viver!”
Ps. Há um tio que te adora!
Para que serve esse “cachucho” enfiado na exuberância do egoísmo, em cima do qual nenhum ser humano se pode colocar, e essa imagem de “chefe de família” que excede a modéstia e a essência dos laços de sangue? Vi-te frequentes vezes propores modelos de vida que nem tu, que propunhas, tinhas alguma esperança de seguir ou, o que é pior, desejo de o fazer. Para que serve a magnificência e o tamanho do teu transporte privado, quando a única viagem que verdadeiramente fazes não ultrapassa a reduzida distancia que vai de ti a ti? Ouvi frequentes vezes o suspiro artificial das tuas preocupações, quando os teus próprios ouvidos se fechavam aos gemidos de quem contigo partilha uma origem. Sob a máscara do esquecimento e do equívoco, invocas como justificação a ausência de más intenções, expressas sentimentos e paixões cuja realidade seria bem melhor, tanto para ti próprio como para os outros, que confessasses a partir do momento em que não estás à altura de os dominar.”
“É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc... A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.
Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.
Porque é que, na maior parte das vezes, os homens na vida quotidiana dizem a verdade? Certamente, não porque um deus proibiu mentir. Mas sim, em primeiro lugar, porque é mais cómodo, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória. Por isso Swift diz: «Quem conta uma mentira raramente se apercebe do pesado fardo que toma sobre si; é que, para manter uma mentira, tem de inventar outras vinte». Em seguida, porque, em circunstâncias simples, é vantajoso dizer directamente: quero isto, fiz aquilo, e outras coisas parecidas; portanto, porque a via da obrigação e da autoridade é mais segura que a do ardil. Se uma criança, porém, tiver sido educada em circunstâncias domésticas complicadas, então maneja a mentira com a mesma naturalidade e diz, involuntariamente, sempre aquilo que corresponde ao seu interesse; um sentido da verdade, uma repugnância ante a mentira em si, são-lhe completamente estranhos e inacessíveis, e, portanto, ela mente com toda a inocência.”
Mariejo aux Vale Rodrigo
Le rêve de cet horizon lointain
Le pays retourné dans le cycle des saisons
La fêlure de ce bleu meurtri
Mais sans cesse recommencé...
Esqueci de apagar o candeeiro do desejo
E adormeci olhando para uma janela
Meio aberta
Meio fechada
Meio iluminada
Meio apagada
Dando para um muro
Para um jardim
Para uma rua
Para o alcatrão
Para a verdura
Para a escuridão
Para a claridade…
A janela do amor faz-me adormecer!
Vivências em duas geografia!
Volto já, disse-me ela, e saiu
deixando a porta aberta e
os chocos em lenta chama.
Chocos com tinta:
Jantar romântico a dois!
Reencontrei-a seis anos depois:
Apagaste a chama?
Perguntou-me ela.
Longos a fritar estes chocos
com tinta do amor:
umas vezes vermelha de paixão,
outras negra de dor!
A onça de tabaco, o livro das mortalhas, os óculos de sol
Para esconder os estragos da noite,
Uma garrafa de cerveja sempre cheia de tédio,
vazia de sonhos e de sensibilidade:
Os Zés da ilha demissionaram-se da realidade.
Cobram o reconhecimento por feitos passados
De um passado que nunca passou e, dormem ao abrigo
De um futuro dependente da meteorologia social.
Chegaram mal alimentados, mal alojados, mal casados
Permanecem bem bebidos, bem comidos, bem fumados:
Os Zés da ilha são os hippies da actualidade: enrolam o charro
Quotidiano sob o olhar critico das gaivotas ganzadas de liberdade
E de azul e de mar e de espaço e de paz e altivez…
Os Zés da ilha fecundam o tempo mudo
Projectando na tela da ilusão de um inacessível porto de abrigo.
Hibernam no inverno em marinada de cerveja e nicotina
Aguardando o Banho -Maria primaveril para ressuscitarem
No refogado estival com a chegada de amigos turisticamente generosos.
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